ANÁLISE CRÍTICA DA INFLUÊNCIA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NA IGREJA BRASILEIRA
KLEBER RODRIGUES SIQUEIRA
Artigo Científico apresentado a Faculdade Evangélica de Brasília – FE, como requisito para Conclusão de Curso, Colação de Grau e obtenção do título de Bacharel em Teologia. Orientador: Prof. MSc. Antônio de Jesus Silveira Leite
Taguatinga, Brasília, DF,
Julho de 2016
ANÁLISE CRÍTICA DA INFLUÊNCIA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NA IGREJA BRASILEIRA
Kleber Rodrigues Siqueira
RESUMO: Devido ao distanciamento do evangelho simples e autêntico as pessoas na modernidade optaram por um novo tipo de pensamento mágico que pudesse preencher o vazio do capital em suas vidas. A Teologia da Prosperidade veio como resposta a esta demanda, porém produziu numa escala sem precedentes heresias dentro da igreja cristã. As pessoas que participam das igrejas que aderiram a esta teologia, pouco se preocupam com doutrinas e práticas cristãs. Para um leigo, ao entrar em uma destas igrejas, facilmente perceberá uma mística no ritual cúltico, visto que há diversas semelhanças às praticadas no espiritualismo. A igreja brasileira abraça com muita facilidade as novidades provindas de outros países, contudo não se preocupam em observar nestes continentes como se encontram as suas igrejas. A observação das igrejas nos Estados Unidos mostra o que tal teologia foi capaz de fazer aos seres humanos: encher os templos de entretenimento, teatro e mercado e esvaziar a fé cristã e a busca pelo Reino de Deus.
Palavras-chave: Igreja, pentecostal, teologia, neopentecostal.
INTRODUÇÃO
O propósito principal para a produção deste trabalho tem como objetivo proporcionar um amplo conhecimento da situação atual na qual a igreja do século XXI se encontra, a partir do ponto de vista da Teologia da Prosperidade. A sua origem, os principais precursores, as consequências deste pensamento para igreja cristã e o seu desenvolvimento, estão devidamente expostos de forma clara e objetiva proporcionando ao leitor uma gama de informações esclarecedoras. Este artigo foi idealizado a partir do anseio de conviver com a instituição igreja, na qual, esta se encontra tão contraditória com seu objetivo original, que é aproximar o homem a Deus, e não às coisas.
A metodologia utilizada foi a de levantamento bibliográfico, uma vez que foi pesquisado em referenciais teóricos os assuntos que fizeram parte do tema, bem como a pesquisa possui caráter indutivo, ou seja, partimos das pequenas temáticas para entender o assunto da evangelização como um todo. Logo o trabalho apresenta um fim investigativo, uma vez que levanta considerações e direções sobre o tema ora pesquisado.
No tópico 1 será apresentada a origem do pentecostalismo, seu caminhar na história da igreja cristã e os principais precursores deste movimento, passando pela Europa, América do norte, e posteriormente chegando em solo brasileiro. São destacadas as duas primeiras denominações que aderiram a esta teologia logo que aportaram em nosso país, e ao encontrar um terreno propício para estas formas de manifestações, esta teologia rapidamente ganha raízes sólidas.
No tópico 2 o trabalho mostrará o progresso do movimento pentecostal, para o movimento neopentecostal, a sua teologia e as principais denominações que à aderiram. A teologia deste movimento é conhecida por Teologia da Prosperidade, sendo que este movimento ganha notoriedade a partir do momento que a igreja protestante se mistura com as formas de culto da Romana e da afrobrasileira, proporcionando assim, um conjunto complexo de conceitos estranhos ao Evangelho.
No tópico 3 serão apresentadas as principais consequências proporcionadas pela Teologia da Prosperidade, e seus efeitos tanto no meio eclesiástico, como também na sociedade contemporânea. Estas consequências são comprovadas por dados estatísticos confirmando a discrepância entre o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo, em relação à Teologia da Prosperidade, resultando assim em uma igreja cristã, ausente de Cristo.
1. ORIGEM DO MOVIMENTO PENTECOSTAL E IGREJAS.
Os primórdios do movimento pentecostal estão na descida do Espírito Santo sobre os discípulos, onde estes se encontravam reunidos por ordem de Jesus, quando de repente um vento impetuoso encheu toda a casa, e línguas como de fogo apareceram e repousaram sobre os que ali estavam. Este fato esta relatado no livro dos Atos dos Apóstolos capítulo 2. O termo pentecostal refere-se ao dia de “Pentecostes”, cuja palavra tem origem grega “pentēkostḗ”, sendo que seu significado é “quinquagésimo”. Este evento aconteceu aos cinquenta dias após a páscoa judaica e a ascensão de Jesus Cristo aos céus.
Segundo Alves (2013), a origem do pentecostalismo deu-se no contexto da Reforma Protestante, no séc. XVI, no qual John Wesley, fundador da Igreja Metodista na Inglaterra sob forte influência dos Morávios inicia pregações fora dos templos, atingindo assim milhares de trabalhadores e mineiros ingleses. Na concepção de Wesley, o homem após a justificação devia dedicar-se à santificação. Alves acrescenta que vários movimentos surgiram a partir desta concepção de Wesley, cujos principais representantes foram Asa Maham e Charles Finney.
De acordo com Romeiro (2013), três pregadores americanos lançariam bases e influenciariam fortemente este movimento em território brasileiro, são eles: Louis Francescon, fundador da Congregação Cristã do Brasil, e os fundadores da Assembleia de Deus, Daniel Berg e Gunnar Vingren. É importante ressaltar que o pentecostalismo, e suas derivações são movimentos, e não denominações ou grupos organizados.
Segundo Alves (2000) o movimento pentecostal iniciou no Brasil, entre os anos 1901-1906. Primeiro, a Congregação Cristã no Brasil, de origem calvinista, em 1910 na cidade de São Paulo capital e em Santo Antonio da Platina- PR. A segunda foi a Igreja Assembleia de Deus de origem arminiana, em Belém do Pará no ano de 1911, tendo seu primeiro templo em 1914. Estas denominações permaneceram de forma unânime em território brasileiro por mais de quarenta anos, até meados do ano de 1950, onde novas formas de culto passaram a se manifestar.
As primeiras igrejas que se instalaram no Brasil encontraram um terreno cheio de sincretismo religioso, visto que o nosso país foi colonizado pelos europeus e pela Igreja Católica Romana com o propósito de catequização. Os índios, e os negros trazidos da África para trabalhos escravos, foram impedidos de cultuarem seus deuses, conforme suas origens. Os africanos mudaram sua forma de cultuar por meio da substituição, por exemplo: Jesus Cristo é associado a Oxalá e Nossa Senhora da Conceição é associada à Iemanjá.
Esta informação é relevante, visto que o próximo movimento, o neopentecostal, está fortemente alicerçado em experiências ligadas ao sobrenatural. A partir de 1950 começa uma nova onda, termo utilizado por Ricardo Mariano para demonstrar uma nova fase do movimento pentecostal brasileiro. De acordo com Mariano (1999), a primeira onda (1910-1950) com ênfase no batismo do Espírito Santo e no falar línguas estranhas, a segunda onda (1950-1960) enfatiza os dons de cura e quebra de maldição, e posteriormente, a terceira onda (após o final dos anos 70) enfatiza a guerra espiritual e guerra aos demônios.
Diante dos fatos, percebe-se que o movimento pentecostal se ressignifica de forma mansa e contínua no decorrer do tempo, a liturgia recebe novos adereços. O verdadeiro mover do Espírito Santo em Atos 2 provocou grande admiração entre àqueles que viam e ouviam tudo que estava acontecendo; de igual forma, nos nossos dias entre os que praticam tais manifestações, provocam grande admiração, mas com efeito contrário, agora não mais com o excluisivo manifestar sobrenatural do Espírito Santo, mas com interferência do homem.
O movimento pentecostal até o início do século XX se encontrava em uma forma aceitável, a igreja buscava o agir do Espírito Santo com espírito de temor, orações e jejuns. O caos começa a acontecer à medida que o tempo passava e os que participavam deste movimento buscava novas experiências, novos moldes para o agir de Deus, tornando os cultos cada vez mais manipulado, no qual o homem passa a ter parte do sobrenatural.
2. ORIGEM DO NEOPENTECOSTALISMO, PRINCIPAIS PRECURSORES, TEOLOGIA E IGREJAS.
A Confissão Positiva é também conceituada por Teologia da Prosperidade, cujo princípio está no pensamento conhecido por gnosticismo. O precursor deste movimento é Essek Willian Kenyon, nascido em Saratoga, NY, em 1867. Segundo Gondim (1993), a Teologia da Prosperidade, surgiu dos antigos movimentos de cura divina que antecederam o pentecostalismo. Durante os primeiros anos do movimento pentecostal, vários evangelistas viajaram pelos Estados Unidos, pregando o que chamavam de Evangelho completo, (ROMEIRO, 2015). Ok
A origem deste movimento não é uma tarefa de fácil identificação, haja vista que não há um ponto que finaliza um para dar início ao outro. Segundo Alves (2000), as fronteiras destes movimentos são muito próximas, e cita Mendonça (1994): “Entre o novo e o velho não há um vácuo total; no novo, há elementos do velho, há resquícios das antigas crenças; é por este motivo que as seitas têm como ponto de partida as antigas doutrinas da igreja de origem”.
No Brasil a segunda onda teve início nos anos 50 na cidade de São Paulo, com dois ex-atores de filmes de faroeste americanos e missionários que estavam à frente da Cruzada Nacional de Evangelização, Harold Willians e Raymond Boatright. O movimento que acontece nesta onda, o neopentecostalismo, é responsável por uma forte aversão aos cultos afros, sendo que esta aversão será determinante para a construção da Teologia da Prosperidade, (MARIANO, 1999). O neopentecostalismo certamente refletiu na estrutura religiosa do cristianismo em nosso país.
O movimento neopentecostal, como já mencionada anteriormente ganha força em um contexto histórico que merece toda a atenção. A cultura brasileira favoreceu o sincretismo religioso, onde o negro, os europeus, e os nativos, deixaram suas origens para assumirem uma nova identidade, tornaram-se “brasileiros”. Como consequência passou a existir uma mistura de práticas religiosas presentes na Igreja Católica e nas religiões de origem africana, alcançando nos últimos tempos as igrejas protestantes, (Gondim, 1993)
Para exemplificar esta situação, vejamos o caso da lavagem das escadarias e do adro da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador, BA. Segundo a Fundação Cultural Palmares[2], esta celebração marca o convívio harmonioso entre duas matrizes religiosas: o catolicismo romano e a afro-brasileira. Enquanto a primeira cultua o Senhor do Bonfim como a representação do Cristo crucificado, a segunda cultua Oxalá. Esta manifestação religiosa tornou-se tão expressiva que, desde o ano de 2013, que foi transformada em patrimônio imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Kenneth Hagin é um dos principais precursores do movimento neopentecostal, considerado por Romeiro (2015) o porta voz da “Confissão Positiva”. Nascido no Texas em 1917, com sérios problemas no coração e desenganado pelos médicos. De acordo com Gondim (1993) Kenneth Hagin influenciou os rumos da igreja no Brasil, mostrando que o nosso país tem facilidade de absorver as tendências e modas estrangeiras, tornando a igreja brasileira acometível a falsas doutrinas e heresias.
Hagin iniciou seu ministério em 1934 e devido a sua crença em cura divina, associou-se com os pentecostais e pregadores de cura divina. No ano de 1937, foi batizado com Espírito Santo e licenciado como ministro do Evangelho da Assembleia de Deus. Em 1962, fundou seu próprio ministério, o Rhema Bible Training Center, tornando-se um dos maiores do mundo, ensinado sobre a fé triunfalista, (ALVES, 2000). Por 12 anos Hagin dirigiu diversas congregações na cidade do Texas, (GONDIM, 1993). Ok
O Ministério Rhema Bible Training Center, tornou-se um dos maiores responsáveis pelo avanço da Teologia da Prosperidade em várias partes do mundo. Dois grandes nomes foram responsáveis pela inserção desta teologia no Brasil: Harold Leroy Wrigth, conhecido por “pastor Bud”, aluno do Ministério Rhema, (ALVES, 2000), e RR Soares, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus, responsável pela publicação da maioria dos livros de Hagin no Brasil, onde possui um programa de televisão e um canal de TV próprio, a RIT, (ROMEIRO, 2015).
A teologia de Kenneth Hagin tornou-se ainda mais “bizarramente” e sobrenatural, afastando-se cada vez mais do Cristianismo apostólico, mas assemelhando-se muito com as práticas espiritualistas e comparado aos fenômenos encontrados na literatura espírita, onde o líder desta religião Allan Kardec, descreve fenômenos mediúnicos muito semelhantes aos narrados por Hagin, e consequentemente praticados por seus fieis seguidores e adeptos à Teologia da Prosperidade, (GONDIM, 1993).
Segundo Mariano (2009), uma vida salutar, abençoada, uma vida de sucesso e bonança, sobrepujando todas as investidas do adversário, geralmente são promessas oferecidas por aqueles que propagam a Teologia da Prosperidade, transformando o Evangelho de Jesus Cristo em uma mensagem terrena, cujo centro da mensagem aponta para o coração do homem, não para o coração de Deus.
Uma teologia deturpada, consequentemente resultará em uma igreja deturpada e distante do propósito na qual ela foi instituída. A igreja contemporânea assimilou esta teologia com muita força, uma vez que o foco não é o por vir, e sim o aqui e agora. As igrejas se transformaram em grandes balcões de negócios, os poderes econômicos dominaram os púlpitos, as Escrituras foram abandonas e substituídas por doutrinas estranhas à Bíblia. Este processo de transformação mudou o centro da pregação, ela deixou de ser cristocêntrica, passando a ser humanista centrada no homem e não em Deus, (LOPES, 2008).
O movimento neopentecostal com ênfase na Teologia da Prosperidade é a maior responsável por esta distorção teológica. Mariano (1999) cita as cinco principais igrejas adeptas a esta teologia, onde a maioria delas estão presentes nos meios de comunicação de massa, tendo redes próprias de televisão com alcance em nível nacional e internacional, são elas: a Igreja de Nova Vida, a Igreja Internacional da Graça de Deus, a Igreja Renascer em Cristo, a Comunidade Sara Nossa Terra, e a mais expressiva, a Igreja Universal do Reino de Deus, que será objeto de estudo.
A Igreja de Nova Vida fundada em 1960, em Botafogo, RJ, pelo missionário canadense Walter Robert McAlister tem um papel fundamental neste processo, uma vez que, dela saíram às duas principais lideranças do neopentecostalismo da atualidade, o bispo Edir Macedo da Igreja Universal do Reino de Deus e o missionário R.R. Soares da igreja Internacional da Graça de Deus. Na Igreja de Nova Vida encontram-se de forma embrionária as principais características do neopentecostalismo, a saber, o combate ao diabo, ênfase na prosperidade material mediante contribuição financeira e ausência de legalismo em matéria comportamental, (MARIANO, 1999).
Em 1975 Edir Macedo ao lado de Romildo R. Soares, Roberto A. Lopes e dos irmãos Samuel e Fidelis, fundou a Cruzada do Caminho Eterno e foram consagrados pastores na igreja Casa da Benção. Por sua experiência com finanças ao trabalhar na Loterj, Macedo tornou-se tesoureiro da Cruzada. Após dois anos, Macedo, Romildo e Roberto saíram da igreja Caminho Eterno, e em julho de 1977 fundaram a Igreja Universal do Reino de Deus. Macedo por ser um líder carismático e autoritário adquiriu destaque entre os fieis e pastores, rompeu com Romildo, que fora recompensado, abrindo a Igreja Internacional da Graça de Deus (Mariano, 1999).
Roberto A. Lopes dirigiu o culto de comemoração do terceiro aniversário da igreja, consagrando Macedo ao bispado, onde aproveitou o momento para adotar o governo eclesiástico episcopal. De forma acertada, Alves (2000) diz que o portador do carisma, é capaz de agregar vários discípulos, criar movimentos de forte caráter emocional. Estes são alguns dos motivos que levou Roberto a romper com Macedo, pois a visão de Macedo era empresarial e mercantilista, muito diferente de quando a igreja começara, com isto, Macedo assume a igreja Universal de forma soberana após a saída de Roberto Lopes em 1986.
A Igreja Universal cresceu de forma meteórica a partir da década de 80. Em 1980, tinha 21 templos em 5 estados. Em 1985 com 195 templos em 14 estados mais o Distrito Federal. Em 1986 com 240 templos em 16 estados. Em 1987, 356 templos em 18 estados, 2 em NY. Em 1988, com 437 templos em 21 estados e DF, 3 em NY e 1 no Uruguai. Em 1989, adquiriu a TV Record, com 571 templos. Em 2010 com 1,873 milhões em mais de 6500 templos, em mais de 200 países (IBGE, 1010). Os números tornaram-se expressivos e indefinidos.
O que faz uma igreja provocar tamanho crescimento, dentro de uma teologia antibíblica, em um país como o Brasil? A esta pergunta pode-se citar algumas respostas que apontam o caminho para um entendimento desta explosão de crescimento. Independente das respostas, o resultado deste crescimento tem sido devastador para o Evangelho, tem provocado um cristianismo distorcido e ausente de Cristo. Quanto a este resultado veremos a posterior. Segue abaixo os principais pilares que tem dado sustento para o avanço deste movimento.
Os veículos de comunicação em massa é um dos cinco pilares que sustentam este império. Mesmo diante da força do rádio, em 1989, a igreja Universal adquiriu a Rede Record de Rádio e TV, que na época estava em decadência e devedora, por USS 45 milhões. Segundo Mariano (1999) nos anos 90, Edir Macedo, bispos e pastores de sua confiança eram proprietários de um império na área de comunicação de massa, adquiridos com um espírito de despojamento dos fiéis de todo o país, com doações, dízimos, ofertas, joias, propriedades e veículos.
O segundo pilar de sustentação é “o sacrifício de Jesus”. Segundo a interpretação de alguns pregadores da Teologia da Prosperidade, após Adão e Eva ter pecado, a comunhão com Deus foi rompida e a humanidade tornou-se escrava do diabo, não havendo mais comunhão entre Deus e os homens. Como é vontade de Deus restaurar a “sociedade” com os homens, Deus envia Jesus à cruz para expiar o pecado original. Para estes defensores, tudo aquilo que nos pertence, nossa vida, nossa força, nosso dinheiro, passa a pertencer a Deus, e o que é de Deus, as bênçãos, a paz, a alegria, passa a nos pertencer (Mariano, 1999).
O terceiro pilar de sustentação é “o dar e receber”. Mariano cita Macedo onde diz: “a Bíblia tem mais de 640 vezes a palavra oferta. Oferta é uma expressão de fé. Se Deus não honrar o que falou há milhares de anos atrás, eu é que vou ficar mal” (MACEDO, O Globo, 29,4,90). No âmbito desta teologia, pagar o dízimo e dar ofertas constituem as duas principais formas pelas quais os crentes provam sua fé. Deus prometeu bênçãos, mas para recebê-las o fiel precisa doar dinheiro para demonstrar sua fé, (MARIANO, 1999). Esta teologia aplicada é um dos canais de arrecadação, como diz o adágio popular: “é dando que se recebe”.
O quarto pilar é conhecido por “guerra santa”. De acordo com Macedo (1993) vivemos na era do demonismo, onde o espiritismo em variadas formas vem alcançando as mentes das pessoas e dominando o mundo. A igreja tem que agir para impedir este domínio, não basta mais a pregação de Lutero, nem de John Wesley, temos que sair e pregar que Jesus Cristo salva batiza e liberta pessoas oprimidas pelo diabo e seus anjos. Tudo isto é verdade, senão, pelo fato de tirar de Deus esta autoridade passando para o homem este poder. É neste ponto que se trava a maior batalha contra as religiões afrodescendentes e seus praticantes.
O quinto e último pilar de sustentação que destaco, é mencionado por Ricardo Gondim, “o poder sobre Deus”. Este é um pilar bastante relevante, pois entendo que, os pregadores desta teologia ao ter em suas mãos os canais de comunicação de massa, aplicam esta teologia com precisão, apelam para o sacrifício de Jesus, compram as bênçãos com dinheiro, o “é dando que se recebe”; o que mais pode acontecer, visto que os seus atos exercem domínio e poder sobre os demônios? Desta forma, os pregadores adeptos desta teologia alcançam o ápice da autoridade, o homem passa a ter poder sobre Deus.
O poder fascina mais do que o sexo, mais que o dinheiro. Muitos desejam ganhar dinheiro e ter as conquistas amorosas, não pelo benefício em si, mas para ostentar o poder que delas exercem. Em si não significa que o dinheiro, o sexo e o poder são necessariamente um problema, mas tornar-se-á dependendo do coração e caráter daquele que o utiliza. Para Gondim (1993), acima de tudo isto, a maior tentação dos adeptos da Teologia da Prosperidade vem com a possibilidade de mandar em Deus.
Gondim (1993) defende que de acordo com esta Teologia, a fé não é depender totalmente do caráter de Deus, mas “chamar realidades à existência”. Fé não é depositada em Deus, mas em um poder dirigido a Deus que o força a fazer o que se deseja que ele faça. Os comandos: “eu decreto, eu determino, eu declaro, eu exijo”, entre outros dados pelos homens, é uma condição de arrogância, pois coloca o homem na posição de Deus, onde ao estalar dos dedos, Deus tem que correr para atendê-los. A Teologia da Prosperidade insiste que podemos reivindicar nossos direitos para com Deus.
O movimento neopentecostal com seus autores e sua teologia, são os maiores responsáveis por descaracterizar o verdadeiro Evangelho de Jesus, visto que este movimento coloca o aqui e agora como a principal mensagem, e não o além e o por vir. A Teologia da Prosperidade tem transformado a igreja em negócio, a fé em produto, onde os interesses pessoais sobressaem às necessidades dos menos providos, onde os bens materiais tornam-se mais importantes que o ser humano, provocando assim um processo de desumanização.
É notório o fato que a influência humana é exercida com fins específicos. Para alguns líderes que aderiram a este movimento, praticar tais atos, torna-se visível a construção de um projeto de poder em seus corações, visto que o objetivo não é ganhar almas para morar no céu, mas sim evidenciar o poder do pregador. O sobrenatural revela este projeto, quanto mais movimento, mais poder. O Evangelho tornou-se ineficiente, perante o poder e a autoridade dos pregadores mais eufóricos.
3. RESULTADOS OBTIDOS PELAS PESQUISAS: DIREÇÕES
Diante dos pilares que sustentam esta teologia, percebe-se que este movimento está consolidado e que pouco, ou quase nada irá melhorar no âmbito da teologia bíblica nos anos que se seguirão, contudo as consequências advindas destas práticas têm provocado grandes transformações, tanto para a igreja física, quanto para sua teologia. Destaco algumas consequências que a teologia da Prosperidade provocou e continuará provocando no meio evangelical brasileiro.
O trânsito religioso. Pessoas interessadas em satisfazer suas necessidades transitam em diversas congregações, mas sem interesse de manter vínculos, visto que as igrejas tornaram-se segmentárias, transformando-se especialistas em determinados dons. Uma igreja é forte em cura espiritual, outra, em expulsar demônios, algumas em prosperidade material, provocando desta maneira uma movimentação entre as denominações até que as suas necessidades sejam supridas.
Os “desigrejados”, Este é um movimento em crescente expansão por diversos motivos: há àqueles que recorrem a Mateus 18.20, “Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”, sendo assim não necessitam de templos. Há outros que decepcionados com a igreja preferem ser cristãos, mas sem participar da instituição chamada “igreja”. Há também os que frustrados com falsas promessas, e com contínuos escândalos que envolvem líderes e igrejas, perdem interesse de congregar, preferindo servir a Deus fora da igreja. Pessoas que querem Cristo, mas rejeitam o templo.
Uma questão ética. Uma nação cristã, porém sem Cristo. De acordo com o Censo de 2010, (IBGE)[3] os cristãos são 86,8% no Brasil; católicos são 64,6%; e os evangélicos são 22,2%, tornando o Brasil, o maior país cristão do mundo. Porém isto não condiz com a realidade. A cada manhã os telejornais são preenchidos por notícias recheadas de escândalos, corrupção, pedofilia, mortes, violência, tudo isto acontecendo dentro e fora da igreja. A igreja nunca foi tão grande, no entanto nosso país nunca foi tão violento, corrupto, confuso e perdido, (MCALISTER, 2009).
A união da igreja com a política. A teologia da Prosperidade é um campo fértil neste ponto, visto que, para estes, a igreja deve conquistar o mundo antes da volta de Cristo. Nos períodos de eleição percebe-se o crescente número de pastores e líderes afirmando que a igreja deve conquistar o poder político, e impor sobre a sociedade, um governo baseado na Bíblia. A união da igreja com o Estado nem sempre trouxe bons dividendos para a causa de Cristo (ROMEIRO, 1999). O templo vira palco, o púlpito vira palanque político. O maior exemplo desta reação é a bancada evangélica no Congresso Nacional.
O movimento gospel. A expressão Gospel está relacionada à música e se popularizou no Brasil nos anos 90. A Igreja Renascer em Cristo transformou o termo “gospel” em marca de sua propriedade, tornando produtos em diversos seguimentos: Gravadora, revista, TV, Curso pré-vestibular, portal de internet. A bandeira Visa, desenvolveu o Cartão de Crédito Batista; os magazines com camisetas, livros, discos. A empresa de telefonia Ericsson com o celular “Fiel”; roupas da Mara Maravilha, perfume da Aline Barros, entre outras centenas de produtos, (CUNHA, 2007).
Estas são algumas das muitas consequências que a teologia da Prosperidade provocou e continuará provocando em nossa comunidade eclesiástica. Os evangélicos tem se distanciado cada dia mais dos postulados bíblicos. A Igreja Evangélica no Brasil não consegue ser uma igreja que influencia uma sociedade, pelo contrário, ela tem sido influenciada. O maior problema da igreja atual é que ela está distante dos fundamentos basilares do Evangelho e, com isto, a igreja não tem como se ancorar neste mundo de mudanças, correndo o risco de não conseguir enxergar sua própria ruína, (MCALISTER, 2009).
Vivemos em uma sociedade materialista, onde o “ter” é mais importante que o “ser”, onde as pessoas são levadas ao consumismo desenfreado, provocando assim um grande endividamento, sem esquecer os governantes que estimulam a sociedade para o consumo, e as promessas que todas as coisas irão dar certo. Diante destas propostas, a promessa da prosperidade material encaixa-se perfeitamente para aquelas pessoas que querem consumir e viver uma vida aparente, de muito sucesso, sem que nada dê errado.
Jesus Cristo disse que quem quer segui-Lo, negue-se a si mesmo, pegue sua cruz e segue-O (Mt 16.24), João Batista teve sua cabeça colocada em uma bandeja, os discípulos de Jesus tiveram mortes trágicas, exceto João que morreu já velho, mas mesmo assim em uma ilha prisão. O próprio Senhor Jesus fora crucificado, ou seja, todos tiveram um fim trágico, sem contar Estevão, que foi apedrejado e os mártires que percorrem nossa história. Algo está errado nesta teologia, ela não é bíblica, e os líderes devem estar atentos. Esta teologia agrada o ouvinte, mas não agrada a Deus, simplesmente por ser contrária aos seus ensinos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
A igreja contemporânea está dividida entre os que aderiram à Teologia da Prosperidade e os que ainda resistem a este movimento. A proposta deste trabalho foi identificar às raízes deste movimento, as igrejas participantes, a evolução desta teologia, suas consequências e o que fazer diante desta situação onde se encontra a igreja. Os autores Paulo Romeiro, Ricardo Mariano, Ricardo Gondim, Robert McAlister, Hernandes Dias Lopes e Patrícia Formiga Alves, foram alguns dos proeminentes pesquisadores requeridos para que este trabalho fosse embasado.
O primeiro tópico apresenta a origem do movimento pentecostal, desde o mover de conhecido “pentecostes” em Atos 2, até os anos de 1950 no Brasil. Embora este movimento se inicie em pentecoste, é no contexto da Reforma Protestante, século XVI, que o teólogo e pastor John Wesley através da sua pregação, provoca uma grande mudança na teologia. Muitos movimentos surgiram e alcançaram fronteiras mundo afora, passando pelos Estados Unidos da América, alcançando o Brasil no século XX, contudo, totalmente modificado.
Em relação ao segundo tópico, foi abordada a origem do movimento neopentecostalismo, seus principais precursores e teologia. Este movimento é decorrente de um processo de aculturação do pentecostalismo, no qual ao chegar ao nosso país encontra um terreno cheio de sincretismo religioso. Seu principal responsável no país está na pessoa do pastor Edir Macedo fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, cujo pastor e igreja, foram objetos de estudo mais detalhados, visto que esta igreja com sua teologia é a maior evidencia da deturpação do Evangelho nos dias de hoje.
No tocante ao terceiro tópico, são apresentadas cinco consequências significativas decorrente do movimento neopentecostal, conhecida por Teologia da Prosperidade. Os meios de comunicação em massa é o maior responsável por divulgar esta teologia, provocando um crescimento quantitativo de pessoas que buscam a Deus por aquilo que Ele pode fazer, e não por quem Ele é, basta analisar os dados expostos neste tópico, onde o Brasil é considerado o maior país cristão do mundo, porém a nossa sociedade não reflete o verdadeiro Evangelho de Cristo.
Segundo a pesquisa realizada, não há caminho de volta, não tem como voltar o que um dia já foi uma igreja ideal, até porque ela nunca existiu; ou uma igreja mais próxima à igreja primitiva que é o nosso maior referencial, contudo, há duas possibilidades que se praticada poderá minimizar esta situação tenebrosa: a primeira direção é voltar às bases da teologia bíblica, cujo pensamento é unânime entre os pastores reformados, a segunda direção é a prática da pregação expositiva, ou seja, é necessário pregar de forma correta os temas corretos a serem pregados.
As duas direções se fundem no momento em que, aquilo que se prega se encontra com a forma que se prega. As Escrituras Sagradas são o conteúdo da pregação expositiva. A supremacia da Escritura e a primazia da pregação andam de mãos dadas, elas são inseparáveis. Jesus diz em Jo 17.17, que a Palavra de Deus é a “Verdade”, e em Jo 8.32 diz que, “conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”. Sendo assim o que mais deveria ser pregado, senão à Palavra de Deus.
Esta pesquisa é de suma importância, uma vez que, a igreja cristã encontra-se caminhando a passos largos para uma realidade contrária à proposta original do Evangelho, haja vista, que a Teologia da Prosperidade tem evoluído gradativamente, provocando resultado devastador na comunidade cristã, onde muitos dizem pertencer à igreja de Cristo, no entanto vivem de forma alheia ao Evangelho, é como se este não existisse, perdendo assim a sua essência.
Seguramente o conteúdo desta pesquisa, contribuirá para esclarecer, desfazer dúvidas e nortear sobre assuntos referentes à igreja cristã e à sua teologia, desde os primeiros séculos iniciada com os apóstolos até os nossos dias, possibilitando a estudantes, mestres, pesquisadores, leigos ou a quaisquer, que desejarem usufruir desta pesquisa, proporcionando esclarecimentos e alargando conhecimentos, visto que, torna-se necessário estar bem informado com questões relacionadas à Igreja de Jesus Cristo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[1] Bacharelando em Teologia pela Faculdade Evangélica de Brasília. E-mails: siqueirakleber@hotmail.com; kleberbenita@gmail.com.
[2] Disponível em: http://www.palmares.gov.br/?p=40402 – Em 16 de junho de 2016.
ANÁLISE CRÍTICA DA INFLUÊNCIA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NA IGREJA BRASILEIRA
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terça-feira, agosto 15, 2017
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